Borges tinha a suspeita
de que a espécie humana estaria prestes a extinguir-se e que a Biblioteca
perduraria iluminada, solitária, infinita,
perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível,
secreta. Hoje, a descrição Borgeana da Biblioteca arrepia o couro cabeludo
dos professores bibliotecários, que a concebem prestimosa e funcional como um
canivete suíço, convivial e versátil como uma sala de estar.
Num passado não muito
longínquo, a Biblioteca Escolar adequava-se folgadamente à descrição de Jorge
Luís Borges: um local não raras vezes soturno, que impunha um mutismo
constrangido, não propício ao sururu da converseta e ao bruaá dos gadgets
electrónicos. A biblioteca escolar era um espaço académico que decorria de uma
concepção devocional do saber e da cultura, no qual mortos viviam e os mudos
falavam. Era o silêncio dos livros,
posto hoje em causa pelo gadgetismo reinante das novas Tecnologias do Espírito, cuja propensão distractiva conflitua com
aquilo que Derrida designa como a clausura do livro e a abertura do texto. Com a argúcia panóptica proverbial, disse
recentemente Steiner que as pessoas vivem no meio da algazarra e os jovens têm
medo do silêncio. E inquiria: O que vai
acontecer às leituras sérias e difíceis? Ler uma página de Platão com um
walkman nos ouvidos?
Sem comentários:
Enviar um comentário