terça-feira, 22 de outubro de 2013

Prof.

Borges tinha a suspeita de que a espécie humana estaria prestes a extinguir-se e que a Biblioteca perduraria iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta. Hoje, a descrição Borgeana da Biblioteca arrepia o couro cabeludo dos professores bibliotecários, que a concebem prestimosa e funcional como um canivete suíço, convivial e versátil como uma sala de estar.
Num passado não muito longínquo, a Biblioteca Escolar adequava-se folgadamente à descrição de Jorge Luís Borges: um local não raras vezes soturno, que impunha um mutismo constrangido, não propício ao sururu da converseta e ao bruaá dos gadgets electrónicos. A biblioteca escolar era um espaço académico que decorria de uma concepção devocional do saber e da cultura, no qual mortos viviam e os mudos falavam. Era o silêncio dos livros, posto hoje em causa pelo gadgetismo reinante das novas Tecnologias do Espírito, cuja propensão distractiva conflitua com aquilo que Derrida designa como a clausura do livro e a abertura do texto. Com a argúcia panóptica proverbial, disse recentemente Steiner que as pessoas vivem no meio da algazarra e os jovens têm medo do silêncio. E inquiria: O que vai acontecer às leituras sérias e difíceis? Ler uma página de Platão com um walkman nos ouvidos?

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