Longe de mim apodar a etérea
Maria Luis Albuquerque como discípula freudulenta
do pai da psicanálise, mas alto e pára o baile: basta de tanto apelo ao princípio da realidade. Se não podemos
voltar à prosperidade pregressa, ao que era, porque o que era não existe - e
desconfio que nunca existiu para a maioria dos portugueses que antes da crise
viviam com os salários mais miseráveis da União Europeia -, resta-nos o futuro.
Mas o futuro real da ministra das finanças é o futuro das revoluções
conservadoras - apresenta uma restauração
como se de uma revolução se tratasse. E aí está a realidade da restauração,
o projecto de base do FMI, a famosa fórmula conhecida como consenso de Washington, avocada também pela troika e instâncias
europeias: abandono dos programas sociais keynesianos, adopção de políticas monetaristas,
redução ao mínimo das despesas sociais, privatização da educação e do sistema
de saúde públicos, redução da dívida pública.
Retornemos, pois, ao
princípio da realidade, a Freud e, já agora, ao negregado psicobolche Slavoj Žižek : Como entender a dimensão de superego com que o FMI trata seus Estados clientes –
enquanto os repreende e pune pelas dívidas não pagas, simultaneamente oferece
novos empréstimos, que todos sabem que não poderão ser pagos, sugando-os então
para mais fundo no círculo vicioso de dívida gerando dívidas? A ministra
das finanças repreende, pune, mas o aceno à realidade é só um ameaço irreal. A
realidade é pouco real e parece resultar do conflito das suas interpretações. Ela
sabe que a realidade é uma batalha a travar.
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