A NUDEZ
« A nudez oferecida pela boca: justamente os árabes tratavam de cobri-la às suas mulheres.»
Ernesto Ferrero - N. Napoleão
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
MATTS MAGNUSSON E O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL
x
y
As questões da identidade pessoal têm sido basta e minudentemente analisadas ao longo da história da filosofia. De Sócrates a van Inwagen, de Aristóteles a Eric T. Olson, o tema persiste na sua (in)tratável singularidade. E persiste e insiste quando observamos estas duas fotografias e tentamos resolver o secular problema da "identidade dos discerníveis". Qual és tu Magnusson?
APORIA 1 SOBRE MAGNUSSON: Há algum critério substantivo da sua identidade pessoal?
Por outras palavras: há condições necessárias e suficientes para alguém persistir ao longo do tempo? Ainda por outras palavras: será possível completar a condicional seguinte de modo não trivial: "Necessariamente, se a imagem x é uma pessoa num dado momento e a imagem y é uma pessoa noutro momento, x é y se e somente se.... ?
Resposta 1: É. Usar a camisola do Benfica.
APORIA 2 SOBRE MAGNUSSON: Qual o tipo de continuidade física e psicológica requerida para Magnusson persistir ao longo do tempo?
Resposta 2: :):):):)
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As questões da identidade pessoal têm sido basta e minudentemente analisadas ao longo da história da filosofia. De Sócrates a van Inwagen, de Aristóteles a Eric T. Olson, o tema persiste na sua (in)tratável singularidade. E persiste e insiste quando observamos estas duas fotografias e tentamos resolver o secular problema da "identidade dos discerníveis". Qual és tu Magnusson?
APORIA 1 SOBRE MAGNUSSON: Há algum critério substantivo da sua identidade pessoal?
Por outras palavras: há condições necessárias e suficientes para alguém persistir ao longo do tempo? Ainda por outras palavras: será possível completar a condicional seguinte de modo não trivial: "Necessariamente, se a imagem x é uma pessoa num dado momento e a imagem y é uma pessoa noutro momento, x é y se e somente se.... ?
Resposta 1: É. Usar a camisola do Benfica.
APORIA 2 SOBRE MAGNUSSON: Qual o tipo de continuidade física e psicológica requerida para Magnusson persistir ao longo do tempo?
Resposta 2: :):):):)
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
DIALÉCTICA DA TELEVISÃO PURA: PORT-AU-PRINCE, 25 de Janeiro de 2010
« A compaixão do mundo pelo povo do Haiti é em boa medida uma obra da televisão. Sem imagens, testemunho e relatos,não haveria proximidade da catástrofe e a consequente mobilização maçica da caridade e da solidariedade. A banalização das emoções e das imagens de sofrimento é o preço a pagar por isso.»
Eduardo Cintra Torres - Público 22/01/2010
« O quadro das antinomias do audiovisual assemelha-se ao da Razão Pura. Cada tese tem a sua antítese e nenhuma pode refutar a outra, de modo que o iconófobo e o iconódulo estão condenados a viver juntos, por vezes no mesmo indivíduo. A justaposição dos argumentários, que ajudará a dissipar algumas ilusões, confirma que, no fundo, a questão da imagem não avançou significativamente depois do século VIII.»
Antinomia 1(relativa à Pólis) : A televisão serve a democracia/A televisão perverte a democracia
Antinomia 2 (relativa ao espaço) : A televisão "abre" ao mundo/A televisão escamoteia o mundo
Antinomia 3 ( relativa ao tempo) : A televisão é uma memória formidável/A televisão é um funesto passador
Antinomia 4 (relativa ao valor de realidade) : A televisão é um operador de verdade/ A televisão é uma fábrica de ilusões
Régis Debray - Vie et Mort de L`Image
« A compaixão do mundo pelo povo do Haiti é em boa medida uma obra da televisão. Sem imagens, testemunho e relatos,não haveria proximidade da catástrofe e a consequente mobilização maçica da caridade e da solidariedade. A banalização das emoções e das imagens de sofrimento é o preço a pagar por isso.»
Eduardo Cintra Torres - Público 22/01/2010
« O quadro das antinomias do audiovisual assemelha-se ao da Razão Pura. Cada tese tem a sua antítese e nenhuma pode refutar a outra, de modo que o iconófobo e o iconódulo estão condenados a viver juntos, por vezes no mesmo indivíduo. A justaposição dos argumentários, que ajudará a dissipar algumas ilusões, confirma que, no fundo, a questão da imagem não avançou significativamente depois do século VIII.»
Antinomia 1(relativa à Pólis) : A televisão serve a democracia/A televisão perverte a democracia
Antinomia 2 (relativa ao espaço) : A televisão "abre" ao mundo/A televisão escamoteia o mundo
Antinomia 3 ( relativa ao tempo) : A televisão é uma memória formidável/A televisão é um funesto passador
Antinomia 4 (relativa ao valor de realidade) : A televisão é um operador de verdade/ A televisão é uma fábrica de ilusões
Régis Debray - Vie et Mort de L`Image
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
A (H1N1) "TEMOR E TREMOR"
Os investigadores do King`s College declararam que o Ponto G não existe e Alberto Manguel e Gianni Guadalupi escreveram uma nova entrada no "Dicionário de Lugares Imaginários". Depois de, na semana passada, se adensarem as suspeições sobre o papel das farmacêuticas no temor e tremor pandémico, só falta virem dizer que o vírus da gripe A é uma ficção. É que o Borges já cá não está para aduzir mais uma entrada ao seu "Livro dos Seres Imaginários."
Os investigadores do King`s College declararam que o Ponto G não existe e Alberto Manguel e Gianni Guadalupi escreveram uma nova entrada no "Dicionário de Lugares Imaginários". Depois de, na semana passada, se adensarem as suspeições sobre o papel das farmacêuticas no temor e tremor pandémico, só falta virem dizer que o vírus da gripe A é uma ficção. É que o Borges já cá não está para aduzir mais uma entrada ao seu "Livro dos Seres Imaginários."
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
PORT-AU-PRINCE, 21 DE JANEIRO DE 2010
« A profusão , que passa habitualmente por "informação", é na verdade um disfarce de diversão Kitsch. Também a morte, enquanto disfrutamos de uma imunidade de espectador em relação a ela, é diversão, como o foi na Roma Imperial, ou em 1793.»
Saul Bellow - More Die of Heartbreak
« A profusão , que passa habitualmente por "informação", é na verdade um disfarce de diversão Kitsch. Também a morte, enquanto disfrutamos de uma imunidade de espectador em relação a ela, é diversão, como o foi na Roma Imperial, ou em 1793.»
Saul Bellow - More Die of Heartbreak
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
A VIDA SECRETA DAS METÁFORAS
Sinopse
« Em 1978, quando convalescia de cancro, Susan Sontag escreveu A Doença como Metáfora, um notável ensaio sobre a utilização alegórica, e frequentemente culpabilizante, da doença na nossa cultura. Tornou-se num clássico que a revista Newsweek considerou "Um dos livros mais libertadores do seu tempo". O objectivo da autora consiste em retirar ao cancro o estigma alegórico que sobre ele pesa e mostrar que é apenas uma doença. Neste livro, Susan Sontag defende que a maneira mais autêntica de enfrentar a doença - e a maneira mais saudável de estar doente - é resistir a esse pensamento metafórico.»
A Doença como Metáfora e a Sida e As suas Metáforas de Susan Sontag
From the Back Cover
«This arresting book will make you think, in a whole new way, about the language we use.For metaphors are not mere poetical or rethorical embellishments, Lakoff and Johnson hold, but are a part od everyday speech that affects the ways in which we perceive, think and act. Reality itself is defined by metaphor, and as metaphors vary from culture to culture, so do the realities they define.»
Metaphors We Live By by George Lakoff and Mark Johnson
Sinopse
« Em 1978, quando convalescia de cancro, Susan Sontag escreveu A Doença como Metáfora, um notável ensaio sobre a utilização alegórica, e frequentemente culpabilizante, da doença na nossa cultura. Tornou-se num clássico que a revista Newsweek considerou "Um dos livros mais libertadores do seu tempo". O objectivo da autora consiste em retirar ao cancro o estigma alegórico que sobre ele pesa e mostrar que é apenas uma doença. Neste livro, Susan Sontag defende que a maneira mais autêntica de enfrentar a doença - e a maneira mais saudável de estar doente - é resistir a esse pensamento metafórico.»
A Doença como Metáfora e a Sida e As suas Metáforas de Susan Sontag
From the Back Cover
«This arresting book will make you think, in a whole new way, about the language we use.For metaphors are not mere poetical or rethorical embellishments, Lakoff and Johnson hold, but are a part od everyday speech that affects the ways in which we perceive, think and act. Reality itself is defined by metaphor, and as metaphors vary from culture to culture, so do the realities they define.»
Metaphors We Live By by George Lakoff and Mark Johnson
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
"COMO SE LÊ UM ENSAIO DE FILOSOFIA?"
( Imagem via "O Silêncio dos Livros")
« Não é necessário ler todo o Goethe, todo o Kant, nem mesmo é necessário ler todo o Shopenhauer; algumas páginas do Werther, algumas páginas das Afinidades Electivas e no fim sabemos mais sobre os dois livros do que se os tivéssemos lido do princípio ao fim, o que em qualquer dos casos nos priva do mais puro deleite. Mas para se chegar a esta drástica autolimitação é preciso ter tanta coragem e tanta capacidade intelectual que só muito raramente isso é possível e nós mesmos só raramente o conseguimos; a pessoa que lê é, como a carnívora, de uma abjecta voracidade e arruína, como a carnívora, o estômago e toda a saúde, a cabeça e toda a existência intelectual.
Mesmo um ensaio filosófico compreendêmo-lo melhor quando não o devoramos por completo de uma só vez, mas apenas debicamos um pormenor, a partir do qual, se tivermos sorte, chegamos depois ao todo»
«Assim as pessoas lêem hoje tudo à pressa, lêem tudo e não sabem nada. Eu entro num livro e instalo-me nele, inteiramente, pense bem, numa ou duas páginas de um trabalho filosófico, como se estivesse a entrar numa paisagem, numa área da natureza, numa estrutura de um estado, num pormenor da terra.»
Thomas Bernhard – Antigos Mestres
( Imagem via "O Silêncio dos Livros")
« Não é necessário ler todo o Goethe, todo o Kant, nem mesmo é necessário ler todo o Shopenhauer; algumas páginas do Werther, algumas páginas das Afinidades Electivas e no fim sabemos mais sobre os dois livros do que se os tivéssemos lido do princípio ao fim, o que em qualquer dos casos nos priva do mais puro deleite. Mas para se chegar a esta drástica autolimitação é preciso ter tanta coragem e tanta capacidade intelectual que só muito raramente isso é possível e nós mesmos só raramente o conseguimos; a pessoa que lê é, como a carnívora, de uma abjecta voracidade e arruína, como a carnívora, o estômago e toda a saúde, a cabeça e toda a existência intelectual.
Mesmo um ensaio filosófico compreendêmo-lo melhor quando não o devoramos por completo de uma só vez, mas apenas debicamos um pormenor, a partir do qual, se tivermos sorte, chegamos depois ao todo»
«Assim as pessoas lêem hoje tudo à pressa, lêem tudo e não sabem nada. Eu entro num livro e instalo-me nele, inteiramente, pense bem, numa ou duas páginas de um trabalho filosófico, como se estivesse a entrar numa paisagem, numa área da natureza, numa estrutura de um estado, num pormenor da terra.»
Thomas Bernhard – Antigos Mestres
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
O PEDAGOGO 1
A revista Philosophie de Dezembro 2009/Janeiro 2010 publicou um pequeno artigo intitulado “Payés pour aller à L`École”, no qual reflecte sobre as políticas dos governos Francês e Inglês para obstar ao absentismo dos alunos. Os projectos, crismados de «cagnotte scolaire» em França e de «Be there bonus scheme» em Inglaterra, contemplam o pagamento de bónus à assiduidade e presença dos alunos, para os quais o acesso ao saber não constitui um privilégio sem preço, mas uma ocupação retribuída.
Como refere o artigo, «o saber e o dinheiro sempre tiveram difíceis relações», não havendo entre eles, Aristóteles dixit, nenhuma medida comum. «Toda a história da educação pode ser lida como a forte aspiração a aceder a esse bem sem preço que é o saber», e a questão «como retribuir o que não tem preço?» não tinha resposta expedita até ao momento em que algumas escolas francesas e inglesas a proclamaram - 15 a 100 euros se o aluno responder presente à chamada sorteada do seu nome. A escola passou a ser o locus dramaticus do módico de engenharia social admissível pelo catecismo liberal, e parece querer ser «o cesto de papéis da sociedade – receptáculo de políticas nos quais são depositados, sem cerimónia, os problemas não resolvidos e insolúveis da sociedade».
Na Grécia clássica, o pedagogo era o servo incumbido de levar o filho do amo aos mestres. Não raras vezes, «escolhia-se para este cargo alguém que, devido à idade, a ser aleijado, ou a sofrer de outros defeitos, fosse incapaz para os serviços domésticos», mas pudesse ainda sobraçar os apetrechos escolares do seu jovem amo. Outrora, o pedagogo levava o juvenil à escola, hoje, penosamente, tenta mantê-lo lá a todo o preço pois, como dizia Epitecto, "todos os lugares são cárceres se aí não desejarmos permanecer".
A revista Philosophie de Dezembro 2009/Janeiro 2010 publicou um pequeno artigo intitulado “Payés pour aller à L`École”, no qual reflecte sobre as políticas dos governos Francês e Inglês para obstar ao absentismo dos alunos. Os projectos, crismados de «cagnotte scolaire» em França e de «Be there bonus scheme» em Inglaterra, contemplam o pagamento de bónus à assiduidade e presença dos alunos, para os quais o acesso ao saber não constitui um privilégio sem preço, mas uma ocupação retribuída.
Como refere o artigo, «o saber e o dinheiro sempre tiveram difíceis relações», não havendo entre eles, Aristóteles dixit, nenhuma medida comum. «Toda a história da educação pode ser lida como a forte aspiração a aceder a esse bem sem preço que é o saber», e a questão «como retribuir o que não tem preço?» não tinha resposta expedita até ao momento em que algumas escolas francesas e inglesas a proclamaram - 15 a 100 euros se o aluno responder presente à chamada sorteada do seu nome. A escola passou a ser o locus dramaticus do módico de engenharia social admissível pelo catecismo liberal, e parece querer ser «o cesto de papéis da sociedade – receptáculo de políticas nos quais são depositados, sem cerimónia, os problemas não resolvidos e insolúveis da sociedade».
Na Grécia clássica, o pedagogo era o servo incumbido de levar o filho do amo aos mestres. Não raras vezes, «escolhia-se para este cargo alguém que, devido à idade, a ser aleijado, ou a sofrer de outros defeitos, fosse incapaz para os serviços domésticos», mas pudesse ainda sobraçar os apetrechos escolares do seu jovem amo. Outrora, o pedagogo levava o juvenil à escola, hoje, penosamente, tenta mantê-lo lá a todo o preço pois, como dizia Epitecto, "todos os lugares são cárceres se aí não desejarmos permanecer".
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
O ENIGMA DE HEMPEL, SEGUNDO ANTÓNIO CÍCERO
∀x(Cx → Px) ≡ ∀x(¬Px → ¬Cx)
ANTÓNIO CÍCERO - "Nasceu no Rio de Janeiro, em 1945.
Poeta e ensaísta, participa em diversas antologias de poemas e colectâneas de ensaios. Foi contemplado, por ocasião da primeira edição de GUARDAR (Rio de Janeiro, Record, 1996), com o prémio Nestlé de Literatura."
O ENIGMA DE HEMPEL
Todo o corvo é preto
e cada corvo preto
confirma o negrume dos corvos.
Se todo o corvo é preto então
todo não-preto é não-corvo
e se todo não-preto é não-corvo
então todo corvo é preto.
Todo corvo é preto
Todo não-preto é não-corvo
e cada não-preto não-corvo
- cada folha verde cada onda azul cada gota de sangue -
prova o negrume dos corvos.
António Cícero, Guardar.
∀x(Cx → Px) ≡ ∀x(¬Px → ¬Cx)
ANTÓNIO CÍCERO - "Nasceu no Rio de Janeiro, em 1945.
Poeta e ensaísta, participa em diversas antologias de poemas e colectâneas de ensaios. Foi contemplado, por ocasião da primeira edição de GUARDAR (Rio de Janeiro, Record, 1996), com o prémio Nestlé de Literatura."
O ENIGMA DE HEMPEL
Todo o corvo é preto
e cada corvo preto
confirma o negrume dos corvos.
Se todo o corvo é preto então
todo não-preto é não-corvo
e se todo não-preto é não-corvo
então todo corvo é preto.
Todo corvo é preto
Todo não-preto é não-corvo
e cada não-preto não-corvo
- cada folha verde cada onda azul cada gota de sangue -
prova o negrume dos corvos.
António Cícero, Guardar.
domingo, 10 de janeiro de 2010
AFINAL O PONTO G NÃO É UM NATURAL KIND
«A localização do ponto G continua a ser um mistério para muitos. Agora, um grupo de investigadores do King’s College, em Londres, chegou à conclusão que o ponto G simplesmente não existe. Para os cientistas, aquela suposta zona erógena é uma invenção cultural, alimentada por revistas femininas e terapeutas sexuais.»
IOL
Os investigadores do King`s College declararam que o Ponto G não é um tipo natural e milhões de homens e mulheres devotos do preceituado em Mateus - "procura e encontrarás" - suspiraram "ufa!", "safa!", "finalmente!". Em Manhattan, alguém ouviu Woody Allen glosar-se: "não apenas o ponto G não existe, como tente encontrar um canalizador num fim de semana". A sociologia da ciência discreteou sobre a construção social dos objectos científicos (Bruno Latour abriu uma garrafa de Don Perignon). Refez-se a cartografia do corpo erógeno. Alberto Manguel e Gianni Guadalupi escreveram uma nova entrada no "Dicionário de Lugares Imaginários".
«A localização do ponto G continua a ser um mistério para muitos. Agora, um grupo de investigadores do King’s College, em Londres, chegou à conclusão que o ponto G simplesmente não existe. Para os cientistas, aquela suposta zona erógena é uma invenção cultural, alimentada por revistas femininas e terapeutas sexuais.»
IOL
Os investigadores do King`s College declararam que o Ponto G não é um tipo natural e milhões de homens e mulheres devotos do preceituado em Mateus - "procura e encontrarás" - suspiraram "ufa!", "safa!", "finalmente!". Em Manhattan, alguém ouviu Woody Allen glosar-se: "não apenas o ponto G não existe, como tente encontrar um canalizador num fim de semana". A sociologia da ciência discreteou sobre a construção social dos objectos científicos (Bruno Latour abriu uma garrafa de Don Perignon). Refez-se a cartografia do corpo erógeno. Alberto Manguel e Gianni Guadalupi escreveram uma nova entrada no "Dicionário de Lugares Imaginários".
INDECIBILIDADE E CASAMENTO (Pace Derrida!)
Não tinha conseguido escolher o nome do filho, o clube de futebol, a confissão religiosa, a profissão. A mulher escolhera-se a si própria - sexo e lassidão numa pousada em Sintra - numa cerimónia sobre a qual ele sobrepairara como um lívido ectoplasma, o que, aliás, estava na iminência de repetir-se. Isso aconteceu quando ela, ferina, o invectivou - ou ela ou eu -, e ele titubeou - como queiras.
KINDLE, BOOKCROSSING E GESTOS EM VIAS DE EXTINÇÃO
Sou devoto praticante de Bookcrossing - um tipo de despojamento bibliófilo que o Borges não aprovaria - , que consiste em "deixar um livro num local público para que outros o encontrem, leiam e voltem a libertar, e assim sucessivamente".
Ainda esta semana deixei, inteirinha, a trilogia Sexus – Nexus - Plexus do Henry Miller na Igreja de Santa Cruz e "O Amor é Fodido" do Miguel Esteves Cardoso na sala do Curso de Preparação para o Matrimónio do Centro Académico de Democracia Cristã . Ontem, no bebedouro aqui do terrunho, encontrei uma edição inglesa intitulada “The Gay Science” que, pelo que percebi, é a obra de um misógino doido e alemão chamado Friedrich Nietzsche. Pareceu-me um augúrio, mas como não leio jornais, não sei se bom, não sei se mau.
Ora, o e-Bookcrossing está um nadinha acima das minhas posses e, apesar da minha proverbial natureza dadivosa, parece-me um nadinha narcísico e excessivo deixar num espaço público a minha biblioteca, agora portátil.
Há ainda outra coisinha. Nos tempos idos em que me dedicava, com minguados proveitos, ao estudo e à leitura na Biblioteca Geral, pelava-me por observar o sortilégio e a sugestão erótica do gesto grácil das minhas colegas, que levavam o dedo médio à comissura dos lábios ( os homens, óbvios, usam o indicador), humedeciam-no com a turgidez tépida da ponta da língua e, cariciosas, viravam a folha com desvelo digital.
O meu mundo está a acabar. O que vai ser de mim?!
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
COMO SER UM FILÓSOFO ANALÍTICO EM APENAS CINCO LIÇÕES
1. Quando ouvir falar de Cultura puxe logo do revólver. Não glose os motes culturalistas consabidos e pense e escreva como se nunca tivesse lido nada ( não se esqueça que os continentais escrevem como se tivessem lido tudo). O objectivo é ascender ao barthesiano “grau zero” da bloomiana “angústia da influência”. Às urtigas com o “círculo hermenêutico” do urticante Gadamer!
2. Argumente sempre. Melhor! Mesmo que não argumente, diga que vai argumentar, que está a argumentar e que acabou de argumentar. Mas se o fizer, meia dúzia de
conectores infero-argumentativos quase lógicos de bolsilho resolvem o problema.
3. Atenção ao barroquismo parentético-citacional. Há uma relação inversamente proporcional entre o número de citações e o número de filosofemas originais. A citação pode ser um atalho do pensamento, mas, como diz comummente o povoléu, quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos.
4. A metáfora e a analogia devem ser usadas com parcimónia. São uma espécie de indolência do pensamento e uma concessão à literatice. Nada de maneirismos à la Derrida (Vade Retro! Abrenuntio!). A ideia do escritor-filósofo é demasiado século XVIII, demasiado francesa, em suma, demasiado demodée (desculpem lá esta palavrinha, mas é tão eufónica!).
5. A verdadeira filosofia, a nossa, é um labor de filigrana conceptual ( Pace Frank Jackson!). Mais vale um paperzinho sobre as minudências das modalidades de Dicto e de Re do que a Grande Síntese sobre a Secularização do Charles Taylor. Não se esqueçam que, devido à especialização filosófica, sabemos cada vez mais de menos e quiçá, futuramente, não saberemos tudo de nada.
1. Quando ouvir falar de Cultura puxe logo do revólver. Não glose os motes culturalistas consabidos e pense e escreva como se nunca tivesse lido nada ( não se esqueça que os continentais escrevem como se tivessem lido tudo). O objectivo é ascender ao barthesiano “grau zero” da bloomiana “angústia da influência”. Às urtigas com o “círculo hermenêutico” do urticante Gadamer!
2. Argumente sempre. Melhor! Mesmo que não argumente, diga que vai argumentar, que está a argumentar e que acabou de argumentar. Mas se o fizer, meia dúzia de
conectores infero-argumentativos quase lógicos de bolsilho resolvem o problema.
3. Atenção ao barroquismo parentético-citacional. Há uma relação inversamente proporcional entre o número de citações e o número de filosofemas originais. A citação pode ser um atalho do pensamento, mas, como diz comummente o povoléu, quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos.
4. A metáfora e a analogia devem ser usadas com parcimónia. São uma espécie de indolência do pensamento e uma concessão à literatice. Nada de maneirismos à la Derrida (Vade Retro! Abrenuntio!). A ideia do escritor-filósofo é demasiado século XVIII, demasiado francesa, em suma, demasiado demodée (desculpem lá esta palavrinha, mas é tão eufónica!).
5. A verdadeira filosofia, a nossa, é um labor de filigrana conceptual ( Pace Frank Jackson!). Mais vale um paperzinho sobre as minudências das modalidades de Dicto e de Re do que a Grande Síntese sobre a Secularização do Charles Taylor. Não se esqueçam que, devido à especialização filosófica, sabemos cada vez mais de menos e quiçá, futuramente, não saberemos tudo de nada.
LITERATURA, ANALÍTICOS E CONTINENTAIS
De Sensu et Sensibilibus, de Aristóteles, remonta a 350 A.C. Em 1811 Jane Austen, em deriva citacional consabida, publicou Sense and Sensibility. Uma boa parte das novelas de Austen revela um profundo interesse epistemológico e a sua vis romanesca pode ser entendida como “ adventures in modes of knowing”. Os pensadores 68, em França, criaram “a new style of philosophical exposition” e aproximaram-se – perigosamente, dirá a filosofia analítica – da literatura, reinventando textualmente o escritor-filósofo do século XVIII. Pace Kristeva, Pace Foulcaut, Pace Barthes, Pace Derrida!
Stanley Cavell, filósofo americano polímato, considera que a tradição anglo-americana concebe a filosofia como um conjunto de problemas para serem resolvidas, enquanto a tradição continental a filosofia como um conjunto de textos para serem lidos: “The continental wants to be seen wrestling with a canon, while the analytic wants to be seen wrestling with a question”.
Os filósofos continentais tentam escrever como se tivessem lido tudo. Os filósofos analíticos tentam escrever como se não tivessem lido nada.
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