Bradley Pearson, o
escritor-filósofo e narrador do romance O Príncipe Negro – Uma Celebração do
Amor, de Iris Murdoch, prefaciou a história de Bradley Pearson. Hoje lembrei-me
de Bradley ao ler uma oferta, graciosa, de consultas de
aconselhamento filosófico. O anúncio enumera alguns exemplos de problemas que
têm conduzido à procura desse serviço:
crises de identidade;
relações interpessoais
(familiares, amorosas, no trabalho);
luto ou proximidade com
a doença de um ente querido;
dilemas ético-morais;
escolha do percurso
académico;
definição do projecto
de vida;
sentimento de angústia
ou tristeza;
dúvidas existenciais;
falta de motivação;
descontrolo emocional;
ansiedade;
outros
Apesar das ineludíveis
ambições filosóficas, Bradley Pearson nunca pensou abrir um consultório de Philosophical
counseling na fremente Londres. Mas eu quero alvitrar aqui que o prefácio da
sua própria história, a história de
Bradley Pearson, em particular um fragmento nele incluso, me parece
útil para a feitura de um breve vade
mecum para aconselhadores e aconselhados da sageza filosófica. Este
extracto deve ser lapidarmente emoldurado e colocado a deslado do balcão da recepcionista,
para logo o utente intuir o onde de onde veio, o onde onde está e o onde para
onde vai. Ei-lo:
(…) Não tenho religião,
excepto a minha tarefa de existir. As religiões convencionais não passam de
sonhos. Um milímetro nos separa sempre do horror e do medo. Qualquer homem,
mesmo o maior, pode ser destruído a qualquer momento, e não há refúgio
possível. Qualquer teoria que negue isto é mentira. No que me diz respeito, não tenho teorias.
Verdadeiramente, a política reduz-se ao enxugar as lágrimas e a um interminável
combate pela liberdade. Sem liberdade não há arte nem verdade. Reverencio os
grandes artistas e os homens que dizem não aos tiranos.