Projecto de Educação Sexual.
O desafio da educação sexual nas escolas: como falar de sexo sem falar de sexo?
O desafecto discente pelos longuíssimos preliminares do discurso dos afectos e
da reprodução: já ouvimos esse paleio
vinte vezes!, diz fulano; é sempre a
mesma coisa!, assente sicrano; e o resto?,
remoe beltrano. O resto pode ser literatura.
Ms.
Amante é professora de Biologia. Ms. Amante diz que os humanos gostam de fingir
que a biologia não se aplica a eles.
As
suas unhas são do mesmo vermelho que o batôn. Tem ancas largas.
Tanto
trabalho para criar laços, e o resultado? Trinta por cento das crias num dado
ninho são prole de outro macho, e não são as mães-pássaro as únicas a portar-se
mal. As fêmeas do coelho, do alce e do esquilo também petiscam às escondidas, e
não apenas com o sexo oposto.
Ms.
Amante é casada. Nunca fala do marido.
Há
uma hormona chamada oxitocina que inspira a vontade de abraçar. E não só. A fêmea
de um rato em ovulação que receba uma dose suplementar de oxitocina esforça-se
muito mais para que os machos a montem. Enquanto nos informa disto, Ms. Amante
enuncia as palavras. A sua boca faz um O quando diz "montem".
O
capítulo das plantas vasculares parece ser quase todo sobre flores. O macho da
vespa vê a fêmea dos seus sonhos e copula com ela. Depois vê a irmã - ainda
melhor! - e repete a dose. Na realidade, são duas orquídeas. As flores
enganaram-no duas vezes. Foi usado, descartado e obrigado a regressar a casa sozinho.
E os estudantes perguntam, Será que ele quer saber? Oficialmente, esta
especulação não faz parte do currículo. Ms.Amante não responde.
A
antera polinífera. O pistilo pegajoso. Quando Ms. Amante os descreve, todos os
alunos, rapazes e raparigas, querem aprender mais, mais, mais.»
Pequenos
Mistérios - Bruce Holland Rogers